Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Hoje foi mais um dia de lutas, dores, desesperos, mas sobretudo vontade de recomeçar. Posso dizer que sem sombras de dúvidas esse tem sido o sentimento que se percebe nas pessoas, não obstante toda a desolação que cerca todos os cantos de Nova Friburgo e muitas localidades circunvizinhas, como imagino também seja em Teresópolis e Petrópolis.
De tudo um pouco foi possível viver. Chorando com os que choram vimos descer à sepultura várias pessoas, entre elas irmãos nossos. Tomamos conhecimento de tantos outros que atingidos pelas forças das águas e desabamentos não resistiram fisicamente e se foram. Muitos ainda não se tem como alcançar face aos soterramentos. Lutando com os que lutam nos vimos descarregando caminhões de donativos (louvado seja o Senhor pelo coração solidário de muitos quer de perto ou de longe), nos vimos também levando alimentos, roupas, ajudando no fluir do trânsito. Fazendo aqui e ali, um pouquinho na enormidade que precisa ser feita, mas com sentimento de esperança: Friburgo vai se por de pé! Deus há de nos valer! Juntos vamos conseguir!
Ainda no de tudo um pouco... Foi possível sentir pavor com os que sentem-se extremamente alarmados. Nesta hora nos pegamos correndo num grande estouro de gente tentando defender a vida, fugindo de um falso alarme de rompimento de uma represa. Pensando agora, em cada minuto que nos é dado viver nestes dias há, dentro de nosso coração, uma grande pressa de que tudo passe. Há um grande grito de que o mal vá para bem longe de nós. Há uma profunda vontade de fugir dessa verdade chamada calamidade que nos desafia a seguir em frente. Para mim, parece, então, que não fugimos apenas de um boato. Fugimos ou corremos por um novo tempo, que há de chegar. Mais uma vez digo: há em nós um sentimento de esperança. Friburgo vai se por de pé! Deus há de nos valer! Juntos vamos conseguir!
O boato nos serviu para investir ainda mais na luta pela vida. E, por mais absurdo que possa parecer, nos serviu para um momento de sorriso e troça. Depois que se percebeu que o alarme era falso a reação foi olharmos uns para os outros e rirmos nos perguntando como pudemos subir morros tão depressa? Como coube tanta gente num só carro? Como pudemos gritar tão alto? Ainda sorriremos por coisas mais preciosas, com certeza. Mas o absurdo dos risos de hoje nos ajudaram a seguir o dia.
Infelizmente há quem tenta explorar a miséria, fazendo-se o pior dos miseráveis. Traz um sentimento de revolta saber que há quem cobre R$ 40,00 por um garrafão de água; ou quem cobre R$ 10,00 reais por uma caixa de vela; ou quem queira saquear casas dos desabrigados. Desabrigados, que com dor no coração, mas em amor à vida deixaram ali boa parte de suas histórias, escrita nos bens diversos de suas casas. Mas a revolta não é maior que a esperança. Esperança alimentada nas grande ações e também nos simples gestos como da cidadã que veio à nossa igreja entregou um litro de leite e ao sair, voltou e disse: "Vou deixar também o pão, não preciso levar tudo pra casa, posso compartilhar". Esperança alimentada no envolvimento e dedicação de oficiais, policiais, médicos, enfermeiros, bombeiros, militares da reserva que têm se apresentado para o serviço e também no envolvimento dos anônimos homens e mulheres, novos e antigos que vão por aqui e ali apresentando-se para ajudar. Sim, a esperança é maior que a revolta e ela vai vencer. Friburgo vai se por de pé! Deus há de nos valer! Juntos vamos conseguir!
A noite chega, é tempo de tentar dormir. Há previsões de chuvas! Mas há certeza da presença do Senhor. Quer nas asas da alvorada ou nos mais profundos abismos. O Deus de longe, excelso, altíssimo, infinito é também Deus de perto, presente, que se inclina para ver o que se passa entre nós, que se faz como um de nós e que nos dá sua graça para vencer. Aleluia!
São 23h43m. É hora de parar. De dizer boa noite e até amanhã. Mesmo que o amanhã se realize na eternidade, na casa do Pai.
Abraço,
Adelino José
Pastor da IPO.
Quando lemos o Salmo 23, de início não entendemos a dimensão que ele pode alcançar. A maioria de nós (eu, inclusive) não tem idéia do que é viver uma catástrofe como essa. Isso sempre parece produção da indústria cinematográfica. Não parece ser real... até que, de um minuto para outro, a vida toda muda. E o salmo, tão bem decorado para ser recitado na EBD, passa a ter sentido na vida prática.
ResponderExcluirEu quero me solidarizar com os irmãos dessa região e rogar ao Deus soberano que conceda forças e ânimo para a reconstrução da cidade e para cura de tantas feridas abertas.
Obrigado irmão Joel.
ResponderExcluirContamos muito com suas orações.
Pastor Adelino
Amado Adelino,
ResponderExcluirPermaneça firme, confiando na providência divina, colocando sua vida à disposição do Senhor e, com certeza muitos milagres acontecerão em meio a tanta tragédia. Conte com nossas orações e com a nossa ajuda material. Estamos mobilizando os irmãos aqui para recolher doações.
Abraços ao Joel aí de cima que não via há muito tempo.
Valeu amado irmão e amigo Tiago.
ResponderExcluirEstamos juntos contigo, mesmo que longe.
ResponderExcluirAbç.
Olá meu amado, estamos com nosso coração apertado com toda essa situação, e recebemos teu email, por meio de nosso irmãos Eduardo Mello Freitas (Brasília). Estamos aqui nos EUA, no estado da Virginia, trabalhando para levantarmos doações e fazê-las chegar até o Rio. Continuamos chorando e orando ao Senhor. Estamos juntos.
ResponderExcluirUma das passagens bíblicas que mais me agarrei nestes dias de dor e lamento, foi o Salmo 46. Inclusive, encerrei uma matéria no meu Blog com ele, intitulada, "No dia em que Nova Friburgo chorou" (http://svrodrigues.blogspot.com)
ResponderExcluirNo entanto, vale ressaltar o final tão bem colocado por Pr. Adelino quando afirma de que a presença do Senhor está conosco. De fato, não podemos perder essa certeza, pois Deus não está alheio aos nossos infortúnios. Ele está presente e compadecido com a nossa dor.
Parabéns, Pr. Adelino, pelo post.