sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Nova Friburgo, 14 de janeiro de 2011. Mais um dia...

Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.

Hoje foi mais um dia de lutas, dores, desesperos, mas sobretudo vontade de recomeçar. Posso dizer que sem sombras de dúvidas esse tem sido o sentimento que se percebe nas pessoas, não obstante toda a desolação que cerca todos os cantos de Nova Friburgo e muitas localidades circunvizinhas, como imagino também seja em Teresópolis e Petrópolis.

De tudo um pouco foi possível viver. Chorando com os que choram vimos descer à sepultura várias pessoas, entre elas irmãos nossos. Tomamos conhecimento de tantos outros que atingidos pelas forças das águas e desabamentos não resistiram fisicamente e se foram. Muitos ainda não se tem como alcançar face aos soterramentos. Lutando com os que lutam nos vimos descarregando caminhões de donativos (louvado seja o Senhor pelo coração solidário de muitos quer de perto ou de longe), nos vimos também levando alimentos, roupas, ajudando no fluir do trânsito. Fazendo aqui e ali, um pouquinho na enormidade que precisa ser feita, mas com sentimento de esperança: Friburgo vai se por de pé! Deus há de nos valer! Juntos vamos conseguir!

Ainda no de tudo um pouco... Foi possível sentir pavor com os que sentem-se extremamente alarmados. Nesta hora nos pegamos correndo num grande estouro de gente tentando defender a vida, fugindo de um falso alarme de rompimento de uma represa. Pensando agora, em cada minuto que nos é dado viver nestes dias há, dentro de nosso coração, uma grande pressa de que tudo passe. Há um grande grito de que o mal vá para bem longe de nós. Há uma profunda vontade de fugir dessa verdade chamada calamidade que nos desafia a seguir em frente. Para mim, parece, então, que não fugimos apenas de um boato. Fugimos ou corremos por um novo tempo, que há de chegar. Mais uma vez digo: há em nós um sentimento de esperança. Friburgo vai se por de pé! Deus há de nos valer! Juntos vamos conseguir!
O boato nos serviu para investir ainda mais na luta pela vida. E, por mais absurdo que possa parecer, nos serviu para um momento de sorriso e troça. Depois que se percebeu que o alarme era falso a reação foi olharmos uns para os outros e rirmos nos perguntando como pudemos subir morros tão depressa? Como coube tanta gente num só carro? Como pudemos gritar tão alto? Ainda sorriremos por coisas mais preciosas, com certeza. Mas o absurdo dos risos de hoje nos ajudaram a seguir o dia.

Infelizmente há quem tenta explorar a miséria, fazendo-se o pior dos miseráveis. Traz um sentimento de revolta saber que há quem cobre R$ 40,00 por um garrafão de água; ou quem cobre R$ 10,00 reais por uma caixa de vela; ou quem queira saquear casas dos desabrigados. Desabrigados, que com dor no coração, mas em amor à vida deixaram ali boa parte de suas histórias, escrita nos bens diversos de suas casas. Mas a revolta não é maior que a esperança. Esperança alimentada nas grande ações e também nos simples gestos como da cidadã que veio à nossa igreja entregou um litro de leite e ao sair, voltou e disse: "Vou deixar também o pão, não preciso levar tudo pra casa, posso compartilhar". Esperança alimentada no envolvimento e dedicação de oficiais, policiais, médicos, enfermeiros, bombeiros, militares da reserva que têm se apresentado para o serviço e também no envolvimento dos anônimos homens e mulheres, novos e antigos que vão por aqui e ali apresentando-se para ajudar. Sim, a esperança é maior que a revolta e ela vai vencer. Friburgo vai se por de pé! Deus há de nos valer! Juntos vamos conseguir!

A noite chega, é tempo de tentar dormir. Há previsões de chuvas! Mas há certeza da presença do Senhor. Quer nas asas da alvorada ou nos mais profundos abismos. O Deus de longe, excelso, altíssimo, infinito é também Deus de perto, presente, que se inclina para ver o que se passa entre nós, que se faz como um de nós e que nos dá sua graça para vencer. Aleluia!

São 23h43m. É hora de parar. De dizer boa noite e até amanhã. Mesmo que o amanhã se realize na eternidade, na casa do Pai.
Abraço,

Adelino José
Pastor da IPO.

7 comentários:

  1. Quando lemos o Salmo 23, de início não entendemos a dimensão que ele pode alcançar. A maioria de nós (eu, inclusive) não tem idéia do que é viver uma catástrofe como essa. Isso sempre parece produção da indústria cinematográfica. Não parece ser real... até que, de um minuto para outro, a vida toda muda. E o salmo, tão bem decorado para ser recitado na EBD, passa a ter sentido na vida prática.

    Eu quero me solidarizar com os irmãos dessa região e rogar ao Deus soberano que conceda forças e ânimo para a reconstrução da cidade e para cura de tantas feridas abertas.

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  2. Obrigado irmão Joel.

    Contamos muito com suas orações.

    Pastor Adelino

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  3. Amado Adelino,
    Permaneça firme, confiando na providência divina, colocando sua vida à disposição do Senhor e, com certeza muitos milagres acontecerão em meio a tanta tragédia. Conte com nossas orações e com a nossa ajuda material. Estamos mobilizando os irmãos aqui para recolher doações.
    Abraços ao Joel aí de cima que não via há muito tempo.

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  4. Estamos juntos contigo, mesmo que longe.
    Abç.

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  5. Olá meu amado, estamos com nosso coração apertado com toda essa situação, e recebemos teu email, por meio de nosso irmãos Eduardo Mello Freitas (Brasília). Estamos aqui nos EUA, no estado da Virginia, trabalhando para levantarmos doações e fazê-las chegar até o Rio. Continuamos chorando e orando ao Senhor. Estamos juntos.

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  6. Uma das passagens bíblicas que mais me agarrei nestes dias de dor e lamento, foi o Salmo 46. Inclusive, encerrei uma matéria no meu Blog com ele, intitulada, "No dia em que Nova Friburgo chorou" (http://svrodrigues.blogspot.com)
    No entanto, vale ressaltar o final tão bem colocado por Pr. Adelino quando afirma de que a presença do Senhor está conosco. De fato, não podemos perder essa certeza, pois Deus não está alheio aos nossos infortúnios. Ele está presente e compadecido com a nossa dor.
    Parabéns, Pr. Adelino, pelo post.

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